Quando um sistema que deveria formar e fortalecer seus profissionais se torna, ele mesmo, fonte de adoecimento, é hora de parar e refletir. O formato militarizado imposto desde o curso de formação é um exemplo cruel disso. Logo na entrada, as pessoas já são submetidas a uma cultura de punição coletiva, onde o erro de um é pago por todos. A pressão é incessante. Regras desumanas, sem
fundamento e absurdas se acumulam. Pequenos detalhes ganham dimensões absurdas, enquanto o essencial – a saúde mental e o preparo real para a profissão – é negligenciado.
Esses profissionais, ainda em formação, são lançados a cadeias novíssimas, sem o treinamento prático necessário para lidar com o cotidiano caótico do sistema. Longe de suas famílias, enfrentam injustiças, assédio moral e isolamento. Pior, são separados dos colegas mais experientes, que poderiam oferecer o apoio e a segurança que tanto precisam. A gestão não só ignora essa riqueza de experiência como faz questão de criar divisões. Uma lógica que afasta, ao invés de unir, enfraquecendo ainda mais quem deveria ser fortalecido.
E então, diante de tragédias como esta, surgem as justificativas prontas: “o suicídio tem muitos fatores.” Sim, sempre há múltiplas razões, mas há também uma verdade inegável: o trabalho é um dos principais reguladores da saúde mental. Quando o ambiente de trabalho se torna fonte de angústia, ao invés de realização, ele corrói pouco a pouco a capacidade das pessoas de lidarem com os desafios da vida. É nesse contexto que surgem sentimentos de inutilidade, esvaziamento e falta de prazer. As relações afetivas se fragilizam. O que sobra depois disso?
A perda de uma vida é sempre irreparável, mas o silêncio e a omissão diante das causas é inaceitável. Que ninguém tenha a audácia de dizer que, por ser nova, a colega não foi impactada pela instituição. A verdade é dura, mas precisa ser dita: nossa forma de conduzir as coisas está matando.
É urgente repensar o caminho. Não podemos aceitar que as pressões impostas por um sistema desumanizante sejam normalizadas. É preciso acolher, apoiar e reconstruir. Porque nenhuma vida vale tão pouco a ponto de ser tratada como descartável.